sábado, 26 de dezembro de 2009

PEÇA DO CAÇUÁ


TEATRO DE JOÃO REDONDO

PEÇA 2

A POMADA MILAGROSA DO Dr. RAIZ CHARLATAN
PERSONAGENS:
QUITÉRIA
TOIN
CABO 70
Dr. RAIZ CHARLATAN
SEBASTIANA DO LAMBEDOR
BASTIM
(Entra em cena Quitéria, toca um forró)

AUTORES: RONALDO GOMES E FRANCINALDO MOURA


Quitéria – Eu sou uma infiliz, uma triste, uma condenada, que na vida toda só arrumei 12 cria e uma tapera vêia abandonada pra morar. Sem falar no macho vêi lá de casa, que só vêve se queixando, que não pode mais trabaiá de cambiteiro de agave, pru que tá com emorrodia de butão.
Por isso que eu vim aqui, doidinha pra ver se encontro Sebastiana do lambedor , pra ver se ela arruma um imprasto de eva babosa pra mode ver se acaba com as emorrodia de Toim.
(Entra Sebastiana)

Sebastiana – Quitéria!!! o qui danado tu faz aqui muié, vinhece na rua fazer a feira foi?

Quitéria – Nam muié , eu vim aqui nesse fim de mundo, atraz de tu mesmo, vê se tu ainda tem daquele imprasto de babosa qui é um arriliqui pra emorrodia de butão.

Sebastiana – E quem mulesta tá com emorrodia, é tu é muié?

Quitéria – Nam muié, né eu não! É toin lá de casa que passou a sumana todinha escanchado em riba dum jumento sem cangalha, cambitando agave , chegou em casa todo desconfiado com uma dor nos quarto e sem querer se sentar. Foi aí que descobri que ele tá com a tal de emorrodia de butão muié.

Sebastiana – Apois Quitéria, fique aí, eu vou buscar o imprasto de eva babosa lá em casa, vou num pé e volto noutro.
(Sai Sebastiana, e Quitéria fica em cena, entra em cena Dr. Raiz com o carro vendendo a pomada milagrosa)

Dr. Raiz – Vem passando na sua rua o carro de propaganda volante, o carro da pomada milagrosa, e da garrafada dos vegetais, pare já este carro e venha conferi esse verdadeiro milagre da ciência farmacêutica.Cura todos os males, coceira,frieira, impigem, bogueira, reumatismo, dores de cabeça, dores nas costas, dores nas juntas, dores nas pernas, equizema, erisipela, lepra, conjuntivite e emorrodia de butão.Pare já este carro.

Quitéria – Graças a deus que vem passando este carro! Eita é hoje que eu acabo com os butão tudim da emorrodia de Toim. Pare aí o carro seu Dr. Raiz.
(Quitéria manda parar a carro para comprar a pomada)

Quitéria – Dr. Raiz Charlatan foi deus que lhe mandou, quanto é uma pumada dessa?

Dr. Raiz – Só custa a módica quantia de cinco real, a senhora vai levar duas pomadas?

Quitéria – Nan! vou levar só uma mermo que probrema é só pra um emorronhento, né pra dois não. Me dê uma. Ô Toin!!! (Gritando)


(Sai de cena Quitéria. Sai Dr. Raiz dizendo o texto anterior)

Dr. Raiz – Vem passando na sua rua o carro de propaganda volante, o carro da pomada milagrosa, e da garrafada dos vegetais, pare já este carro e venha conferi esse verdadeiro milagre da ciência farmacêutica.Cura todos os males, coceira,frieira, impigem, bogueira, reumatismo, dores de cabeça, dores nas costas, dores nas juntas, dores nas pernas, equizema, erisipela, lepra, conjuntivite e emorrodia de butão.Pare já este carro.
(Volta Sebastiana com o emprasto)
Sebastiana – Cadê Quitéria? Onde se infiou aquela condenada? Eu truve o imprasto que ela pediu. Ah! Nun vou espera não.Tenho uma trouxa de raupa pra ir bater lá no rio. (Sai de cena)

(Quitéria entra em cena com Toin)
Quitéria – Toin coma é que tu tá home?

Toin – Tô aqui como deus que e consente, sem miora nenhuma e cada vez mais pior.

Quitéria – Apois nun se aperreie não que eu truve um santo remédio que é um arriliqui, cheque! Avie logo e vire os quarto pra cá, que lá vai pumada.

Toin – Peraí! Essa pumada você comprou onde? Foi na farmácia? (Resistindo)

Quitéria – Foi nada! Eu tenho lá dinhero pra entrar em farmácia, comprei a Dr. Raiz Charlatan que é home das ciências. Cheque logo deixe de manha. Deixe eu ver pra eu passar pumada,(Assombrada) vixe como tá fêi! Nan! Eu nun vô passar pumada com meu dedo nessa bichera não.

Toin – Ontonce passe com um palito de picolé. Avie logo que a coceira ta com a gangrena já tô abespinhado.

(Quitéria pede um palito a platéia)

Quitéria – Quem me arruma um palito? (pega o palito com uma pessoa da platéia) Me dê logo essa bichiga lixa. Toin arrumei o palito, agora se veri que eu vou passar pumada que eu quero vê se amanhã tu num vai tá bonzin. Se vire-se pra cá deixe de ser manhoso. (Pega o palito e passa por baixo da roupa de Toin.)

Toin – Ai Ai Ai!! Tá coçano, tá ardeno, tá queimano, assopre, assopre pelo amor de deus.
Quitéria- É assim mermo, remédio só é bom quando arde.

(Saem os dois de cena, e depois volta Toin reclamando)

Toin – Quitéria! (Gritando) o que mulesta foi isso que tu passou no meu anel de couro? que tá vermelho igualzim a uma fruta de cardeiro, e num paro de me coçá.

Quitéria – Toin pela amor de deus!(desesperada) Vamo pro hospitá, isso foi a pumada daquele vendedor maldito. Vou da parte daquele engabelador.

Toin – Antes de você ir pra delegacia vamo passá logo no hospitá, que eu já tô me coçando todim, e ficano com o coipo todo incalombado.(Fica agitado se coçando com um sabugo)

Quitéria – Num coce não! Vamo simbora pro hospitá, eu vou logo amarrar seus braço...

(No meio do caminho encontram o Cabo 70 empurrando o camburão)

Quitéria – Hei! seu Cabo 70, eu quero dá parte de um sujeito.

Cabo 70 – Diga logo quem é muié, que tô doidim pra butá um na chave.

Quitéria – Não seu Cabo 70, é que tem um vendedó de pumada por aí lezando o povo, até eu que comprei uma pumada pra passá nas emorrodia do meu marido inludida penssano que curava, fez foi piora mais do que tava. E agora eu quero justiça, quero vê esse bandido atrás das grade.Vomo pro hospitá. ( Sai Quitéria e Toim)

Cabo 70 - Num se-aperrei não, que eu sei quem é o meliante, ele uma vez quase que me aleja cum essa pumada falsificada. Vou já buscá o cabra. Êpa! Lá vem o meliante.

(Entra Dr. Raiz em cena, contando o apurado do dia)

Dr. Raiz Charlatan – Eita bixiga! o apurado do dia hoje foi bom todo, lesei um bucado de lesado que cai na minha lábia.

Cabo 70 – Tege preso bandido safado, e num corra não. Vai vê o sol nascer quadrado pra nunca mais vender remédio falsificado.

Dr. Raiz – Tenha calma seu delegado... um homem tão educado não pode chegar assim todo injuriado, sem antes de ir ali comigo no bar da caça tomar uma lapada de cana.

Cabo 70 – você me respeite seu cabra.... que eu num bebo em serviço, nem muito menos sou delegado, eu sou é cabo...

Dr. Raiz – Não meu capitão, é que uma autoridade de sua patente merece é ser chamado de coronel. E não de Cabo.

Cabo 70 – Sendo assim... no que posso lhe servir.

Dr. Raiz – Vamos seguir a vida eu vendo minha pomada e lhe dou 10% do que eu vender, que é pra ajudar na segurança aqui da cidade...

Cabo 70 – Você tá querendo me inludir? seu cabra safado...

Dr. Raiz – Não seu cabo... eu logo vi que o senhor é homem estudado.

Cabo 70 – Claro que sou estudado, já fiz até o mobral, mais deixe de querer me enrolá, e vamo logo pru xilindró.
( O cabo dá uma paulada em Dr. Raiz e leva para a cadeia. Sai os dois de cena.)


(Entra Quitéria e Toin, de volta do hospital)

Quitéria – Agora adespois desse remédio qui o dotor passô, posso drumi mais asussegada sem escutar a mulesta desse gemido.

Toin – É mermo muié, as coisa vai miorá mais , já tô pessano em dá uma namorada hoje de noite. (Querendo agarrar Quitéria)

Quitéria – Dexe de cabimento danado enxerido, tu nem miorou e já tá querendo chafurda, tu num sabe que isso é carregado.
( Entra Sebastiana)
Sebastiana – Quitéria!! Eu sube que teu marido teve foi ruim das emorodia, por que butou a tal pumada do Dr. Raiz Charlatan, muié aquilo é uma enganação, é bem feito!! Se tivesse usado do meu imprasto se num fizesse bem, mal é que num fazia, pois é tudo natural, e isso é pra você aprender e num confiar nesse vendedor de pumada falsa.

Quitéria- Agora eu aprendi, só uso remédio natural, ou receitado pelo médico.
FIM!





sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

MAIS CULTURA

O Grupo Caçuá de Mamulengos foi contemplado pelo MAIS CULTURA Microprojetos Culturais para a região do semi-árido nordestino, o projeto João Redondo Nas Terras do Seridó vai percorrer dez cidades do seridó realizado oficinas, palestras e apresentações de mamulengos e ainda será lançado DVD e destribuido nas escolas e bibliotecas públicas das cidades envolvidas. Os recursos é na ordem de R$ 9.680.000 patrocinado pelo ministério da cultura. As cidades que serão contempladas são: Currais Novos, Cerro Corá, Lagoa Nova, Florânia, Cruzeta, Bodó, Carnaúba dos Dantas, Parelhas, Tenente Laurentino Cruz e São Vicente. A política cultural do governo federal vem mudando o panorama da cultura brasileira, cada vez mais a cultura está sendo valorizada sobretudo a cultura popular que agonizava, mas agora tem uma nova perspectiva de se manter viva, valorizando toda nossa diversidade e nossa identidade. Viva a Cultura!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

JOÃO REDONDO NO TOTORÓ

O vereador Odon Jr, os mamulegueiros Ronaldo e Naldinho
Alunos Assistindo a apresentação

O grupo Caçuá de Mamulengos esteve na última sexta feira 13 de novembro, realizando apresentação no povoado totoró na escola municipal Cipriano Lopes Galvão, o vereador Odon Jr acompanhou o grupo. Muitos dos alunos não conheciam essa minifestação da cultura popular.

domingo, 1 de novembro de 2009

ANIVERSÁRIO DO CAÇUÁ DE MAMULENGOS

Seu Antonio de Rosa mamulenqueiro e brincante de Boi de Rei e Ronaldo
O amigo Judson e Naldinho em Natal

Ricardo Canella estudioso do teatro de bonecos, D. Dadi e Ronaldo nos estúdios da TV Cabugi


Projeto João Redondo no Oco do Mundo



Cabo 70 e o carro da "puliça"




Francinaldo Moura (Naldinho) e Ronaldo Gomes





Os Bonecos do Caçuá






Hoje dia 1º de novembro o Grupo Caçuá de Mamulengos completa (2) dois anos de atuação na cultura popular, no revivamento do teatro de João Redondo na cidade de Currais Novos-RN, nesse tempo de atuação já realizamos mais de (100) cem apresentações na comunidade , como escolas, feira livre,universidades, zonas rurais e nas cidades de Cerro Corrá, Santa Cruz e Natal, e em breve estaremos participando de festival em Brasília. A cultura popular não morreu nem morrerá ela se reiventa a cada dia, pois ela nasce do povo para o povo e quem faz a cultura popular é o povo. Como disse o mentre Câmara Cascudo " A cultura poular é a mais importante de todas as culturas pois ela é a raiz de tudo". Para nós que fazemos o Grupo Caçuá de Mumulengos é um dia muito especial pois em tão pouco tempo de existência já somos reconhecidos pela população da cidade, e apoio dos amigos Odon Jr, Seu Evaldo, Judson, Adriano dos Santos e os amigos do Casarão de Poesia e tantos outros. O Grupo é formado por Francinaldo Moura (Naldinho) e por Ronaldo Gomes. Naldinho é artista plástico, escultor, músico e é claro mamulenqueiro . Ronaldo é graduado em letras pela UFRN e funcionário público e com muito orgulho é brincante do teatro de bonecos João Redondo. Vida longa ao Caçuá de Mamulengos viva sempre a cultura popular.

sábado, 17 de outubro de 2009

APRESENTAÇÕES NA SEMANA DA CRIANÇA

Apresentação na escola Francisco Leônis
O Grupo Caçuá de Mamulengos esteve realizando várias apresentações na semana da criança, nas escolas de Currais Novos. Na creche Tia Coeli, nas escolas Francisco Rosa, Logos, Francisco Leônis, Trindade Campêlo e na escola do Povoado São Sebastião, no dia dez participou da inauguração do Casarão de Poesia e Ponto de Leitura, foi um grande momento da cultura de Currais Novos, um verdadeiro divisor de águas para a cultura local. Os grupos que promovem as manifestações culturais em Currais Novos estão de parabéns pois vem realizando eventos sem o apoio do orgão que compete realizar os eventos culturais na cidade.

domingo, 4 de outubro de 2009

CLASSIFICAÇÃO DAS MARIONETES

BONECO DE LUVA
Há seis classes ou tipos de marionetes quanto à forma e à modalidade de operar do titereteiro.
1- MARIONETE DE VARETAS:
Bonecos de madeira ou outro material leve, cujas articulações são ligadas por varetas, através das quais são movimentadas com manuseio apropriado.

2- MARIONETES DE TECLADO:

Bonecos de madeira ou papelão que possuem uma haste segurando a cabeça, tendo seus movimentos efetuados através da ação de um teclado a que se ligam fios metálicos, dimanando-se para os braços e pernas.

3- MARIONETES DOBRADOS:

Bonecos fabricados especialmente em madeira de pouca espessura, ou em papelão, para serem montados em tábua, podendo, graças a um sistema de rotação feito de elásticos, dobrar-se e voltar à posição inicial.

4-MARIONETE DE HASTE:

Bonecos que consiste em uma cabeça em madeira, de cujo pescoço parte uma haste, emgeralmetálica, que é acionada pela mão do titereteiro.

5- MARIONETE DE FIO:

São as mais comuns e mais requintadas. Bonecos de madeira ou de outro material leve,com fios ligados à cabeça, ao tronco e aos membros, partindo de uma armação de madeira em forma de cruz que, habilmente manuseada, faz com que as marionetes façam qualquer movimento.

6- MARIONETE DE LUVA OU MAMULENGO:

São bonecos que possuem só a cabeça e as mãos em madeira ou outro material leve, o corpo consistindo de um pano em forma cônica, como um camisolão. Por baixo do camisolão, a mão do titereteiro(mamulengueiro) produz, com o dedo indicador enfiado em um furo feito no interior do pescoço do boneco, os movimentos da cabeça; e com os dedos médio e polegar enfiados nas mangas, os movimentosdos braços. É o tradicional mamulengo, João Redondo, Babau e Cassimiro Coco.

Do Livro Mamulengo O teatro mais antigo do mundo.

domingo, 27 de setembro de 2009

INTERVALO CULTURAL


O grupo caçuá de mamulengos esteve realizando apresentação na Faculdade do Seridó, no projeto denominado intervalo cultural, no próximo dia 30 estará no IFRN.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Inauguração do Ponto de Leitura

Baltazar e o Boi Tungão
O grupo Casarão de Poesia estará inaugurando neste dia 26 de setembro, o novo espaço cultural da cidade é um Ponto de Leitura, e grupo Caçuá de Mamulengos estará se apresentando juntamente com outros grupos que promovem a cultura de Currais Novos. E no dia 24 estará se apresentando na FAS (Faculdade do Seridó)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MAMULENGUEIRO TRADICIONAL


MANOEL DE DADICA


Mané de Dadica é brincante de João Redondo a uns 40 anos, figura divertida e bem humorada, seus bonecos são surreais, com seus cabelos de couro de bode, é único na arte fazer sua brincadeira. Saudações do Caçuá de Mamulengos. Ronaldo e Naldinho.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

ENCONTRO DE JOÃO REDONDO DO RIO GRANDE DO NORTE

Mamulengueiros e pesquisadores do teatro de Mamulengo, João Redondo, Babau e Cassimiro Coco
Naldinho, Mané do Fole e Ronaldo

O Grupo Caçuá de Mamulengos, esteve em encontro realizado em Natal do dia três a seis de setembro no Marina Travel Praia Hotel. O encontro foi um verdadeiro sucesso, grandes nomes do teatro de bonecos do RN estiveram presentes. O encontro foi realizado pelo IPHAN, o teatro de bonecos será reconhecido como patrimônio imaterial da cultura brasileira.


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

ENCONTRO DE MAMULENGUEIROS DO RN

Caravana da Cidadania Cultural, o vereador Odon Jr apoia o grupo caçuá de mamulengos.
Graça Cavalcante( Pesquisadora do IPHAN), Naldinho dos bonecos, Raul dos Mamulengos e Ronaldo Caçuá.

O Grupo Caçuá de Mamulengos estará participando de encontro de mamulengueiros, que acontecerá em Natal, de 02 a 07 de setembro de 2009.



sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Caravana da Cidadania Cultural


Caçuá de Mamulengos paticipou no dia 27/08/09 da Caravana Cultural, realizou apresentação e percoreu o cortejo com diversos artistas pelas ruas de Currais Novos. Foi uma grande celebração da nossa diversidade cultural.

domingo, 21 de junho de 2009

apresentação


nesta ultima sexta feira o grupo caçuá de mamulengos se apresentou no sítio Jurupaiti no município de Currais Novos.

domingo, 3 de maio de 2009

Chico Daniel: saudades do mestre mamulengueiro


Desde que me entendo por gente já me divertia com as trapalhadas do negro Baltazar, com as ordens descabidas e absurdas do Capitão João Redondo, que fazia tudo para manter as aparências para o padre Biapino, as bordoadas, piadas interrompidas por risadas do próprio boneco que por si só já eram outra piada .. sem falar na paródia da música Jesus Cristo (Roberto Carlos) que ficou gravada na minha lembrança:“Tem mosquito, tem mosquito, tem mosquito não posso dormir / Olho pro céu e vejo uma nuvem preta de urubu / Olho pro chão e vejo um grupo tomando (glup!) coca-cola (...)”, e outras rimas que nunca eram pronunciadas!!E dá-lhe risada da molecada de todas as idades, com histórias de temática religiosa e piadas populares transformadas em ‘besteirol’ educativo. Momentos deliciosos que poderiam ser degustados em qualquer lugar onde o ‘paninho do palco’ pudesse ser montado. Em praça pública ou teatro, em feiras ou festivais, lá vinha seu Chico Daniel com sua indefectível mala abarrotada de bonecos (mamulengos, fantoches, títeres) — cerca de 40 personagens — pronto para aprontar.Mestre mamulengueiroSapateiro e artista. Potiguar de Assu e adotado pelo bairro de Felipe Camarão, em Natal, há quase 15 anos, Francisco Ângelo da Costa — filho de Daniel Ângelo da Costa — era dessas sumidades incontestáveis.Descendente de uma linhagem de mestres mamulengueiros, o Chico de Daniel deixou saudades, fãs e personagens como Baltazar, filho adotivo do capitão João Redondo, órfãos. Dia 3 de março último, pronto e cheiroso pra mais uma apresentação, perguntou se todos já tinham se arrumado que ele estava “pronto pra partir”, relatou Keyla Elói da Silva, 23, filha do coração e espécie de secretária geral do mestre ‘bonequeiro’. Pouco depois um ataque fulminante no coração derrubou nosso Chico Daniel, que sabia que tinha problemas cardíacos e seguia à risca todas as recomendações médicas. A última apresentação de Chico Daniel aconteceu um dia antes, dia 2 de março, no Largo da Cabocla, Felipe Camarão. Na mesma semana, dia 26 de fevereiro, Hermano Vianna, mesmo sem saber, presenciou um momento histórico em sua rápida visita à Natal. Canto de parede“A primeira vez que vi um mamulengo foi andando mais meu pai. Ele andava de fazenda em fazenda e a gente mais ele. A gente era tudo menino pequeno. Eu achei bom aquele trabalho. Foi o tempo que eu aprendi a bater no pandeiro. Era um cara no fole, eu no pandeiro e meu irmão no triângulo. A gente tocava para os bonecos do meu pai”, diz Chico, lembrando que foi naquela época (anos 1950-60) que ele sentiu vontade de aprender a arte dos mamulengos: “Mamãe fez um paninho para mim e eu armava assim num canto de parede e meu pai fez uns bonequinhos da cabeça pequena. Foi assim que comecei a praticar”, resumiu o Mestre, em depoimento registrado no livro “Chico Daniel — A Arte de Brincar com Bonecos”, lançado em 2002 pelas jornalistas Ângela Almeida e Marize de Castro.Imã de MestresFelipe Camarão, típico bairro de periferia, parece ter um imã no subsolo que atrai mestres como Manoel Marinheiro, mestre do Boi de Reis (considerado Patrimônio Imaterial pela Unesco e MinC), Mestre Cícero da Rabeca, em plena atividade, e o já saudoso bonequeiro.Essa peculiar realidade local despertou na educadora Vera Santana o desejo de ver, ou melhor, de não ver essa arte ser esquecida: em 2003 criou o Projeto Conexão Felipe Camarão, que já é Ponto de Cultura chancelado pelo Ministério da Cultura – MinC, e hoje referência de projeto social bem sucedido.O trabalho de valorizar a cultura que pulsava espontaneamente no bairro há décadas, levantou a moral e devolveu a auto-estima da população: Felipe Camarão saiu das páginas policiais direto para os cadernos de cultura. Quem já participou de eventos no bairro, percebe o orgulho à flor da pele! Uma vibração comunitária real, profunda e sem preço...Como resultado desse sonho concretizado, Vera e os Mestres podem ficar tranqüilos que o legado terá continuidade: além do grupo de Boi de Reis Mirim do Mestre Manoel Marinheiro e o Conexão Rabeca, os filhos de Chico Daniel — Toinho e Josivan — já provaram que tem cacife pra construir bonecos, continuar as brincadeiras e ensinar outras pessoas a arte do mamulengo.Vamos aguardar os próximos capítulos na praça mais próxima, e ficar atentos para ver se Baltazar e o Capitão João Redondo aparecem no ‘paninho’ e acabam com essa saudade!
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MAMULENGOS


O QUE É MAMULENGO
Alguns historiadores dizem que o termo mamulengo deriva de "mão molenga" - a maneira como o manipulador segura o boneco. O termo é oriundo do Nordeste brasileiro e segundo alguns estudiosos teria sido criado por frei Gaspar de Santo Antônio, em Pernambuco, no século XVI.No teatro de mamulengos não se diz representar ou apresentar um espetáculo e sim "brincar de boneco". Guarda elementos vinculados à tradição dos folguedos Ibéricos sendo remanescente dos espetáculos da Commedia Dell'Art. Em geral o ator (mamulengueiro) tem apenas um roteiro do espetáculo. O texto é em sua maior parte improvisado de acordo com as reações do público. Quase sempre o mamulengo é baseado em enredos heróicos, repletos de pancadarias, danças comicidade e críticas a personalidades e a instituições públicas.As histórias pelas quais se aventuram estes seres são também diversas, previamente criadas pelo mestre, na forma de enredos curtos também denominados passagens. As histórias não são necessariamente lineares ou lógicas, mas sempre entrecortadas por música - fundamental no espetáculo de mamulengo -, efeitos sonoros, e muitas vezes, um mediador entre boneco e público conduzindo a participação.